segunda-feira, 5 de julho de 2010

OS ROSEIRAIS DE ZAVADWSKI


imagem/Poty Lazzarotto
(xilogravura)






CARROÇÃO DO TEMPO (DOS POLACOS)

Ao longe, do espigão da curva da poeirenta estrada onde os olhos pasmam os gemidos do tempo ouvem-se ainda, os chiados do pesado concerto do carroção que acaba de chegar da cidade,onde foi levar a ultima colheita de abóboras, repolhos, batatas, milho,feijão...
No varejo do tempo fez a entrega da produção da ceifa.

Zavadski na sítio em Araucária,entre os roseirais, acompanha os gemidos daqueles roldões... por momento,lembram-lhe as sirenes dos campos de refugiados... lembram-lhe os girassóis humanos amontoados nos comboios... lembram-lhe....lembram-lhe...

O acorde silencioso daqueles gemidos dobram,cortam o silêncio dos roseirais sob o concerto da manhã passarada.A manhã orvalhada lhe acaricia a concha dos olhos.Noite e dia os roseirais de Zavadwski lhe comem as carnes.

Desde que chegou às terras geladas do Paraná,sentiu o aconchego polaco de sua Polska distante,desde que acordou num tempo vazio, compreendeu como Napoleão,que a geografia tem muito
a ver com o destino do homem, assim o cumpria, desde que havia percebido que sua alma carregava a pátria também nas memórias do corpo e que sobre sua pele os espinhos dos roseirais haviam escolhido o seu duro granito para espigarem.

E nesta forja incandescente as lágrimas brotavam-lhe quentes entre os desvãos,quando do suplício das brotações...Agora era possível entende-lo com as Catilinárias de Cícero, os dativos e genitivos , os vocativos, os nominativos das declinações, ouvindo-o ao toque da batuta daquele giz sob o halo da lousa fria e compreende-lo, além dos sentidos,porquê lecionava aulas de latim,no Colégio Estadual do Paraná, com as unhas sujas de terra!...




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