sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Araucárias da minha terra

                      foto/Lilianreinhardt

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Lírica de Uma Ceia

pintura/Lilianreinhardt







A vida surpreende a cada instante único. Apreender a cada passo sugere estar disponível para viver. Disponível como se dispõe os frutos na seara para a colheita, disponível para indagar dos mistérios dos grãos no silencio da terra quente sob os pés, sentir essa quietude inquieta na alma, mesmo quando a arrebentação da insolitude quebra as cordas sonoras dos sonhos, mesmo quando o mundo prega a desilusão, o fastio do eu te amo por mis-en-scène, sentir a beleza mesmo quando as formas se dissolvem e tudo fica vazio, neblinando para renascer, eis que rodopia ainda a dança da libélula, a coreografia das abelhas sugando o pólen, a lágrima salgando a vida caindo do oceano da alma...acreditar na ação, que se faz verbo da verdade da alma , eis a busca além das palavras perdidas, que revoam pelas cidades flageladas de hoje que não mais conhecem de partilhas ou ceias... não há mais tempo para sentir o próprio mistério!

Norma Segades Manias

Pido perdón a Lilian por mi "versión libre" de su texto.
La vida nos sorprende con sus instantes únicos. Aferrarse a cada paso sugiere estar dispuesta a vivir. Disponible como los frutos cosecha tras cosecha, disponible para indagar los misterios de los granos en el silencio de la tierra, sentir este silencio incómodo en el alma, aun cuando el oleaje de la soledad quebrante las cadenas sonoras de los sueños, incluso cuando el mundo predica la desilusión, el fastidio donde el amor sucede por error de la puesta en escena. Apreciar la belleza aun cuando las formas se disuelven y todo está vacío en la neblina del renacimiento. He aquí que en remolinos continúa bailando la libélula, en la coreografía de la abeja succionando su polen. Y el llanto va surgiendo hacia la vida cayendo en el océano del alma… Y descree de acciones hechas verbo, de búsquedas constantes más allá de palabras extraviadas sobrevolando urbes plagadas de presente, donde no se conoce más que comida rápida… y ya no queda tiempo para hallar el misterio!

(da Revista Gaceta Literária Virtual)

Muito obrigada! Honrada Norma com sua versão do texto para o espanhol.



http://lilianreinhardt.prosaeverso.net/visualizar.php?idt=3357067

http://muraldosescritores.ning.com/profiles/blogs/l-rica-de-uma-ceia

Lilian Reinhardt






quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Casa das Gabirobas


pintura/Lilian Reinhardt


(Memoriais de Sofia Zocha)



Quem diria que aquela casa de fantasmas cheirava a carambolas, maracujás, ninhos de gabirobas , de beija-flores nos tufos escuros das paredes desnudas? Talvez fosse melhor dobrar a esquina e seguir pela outra rua. Que loucura era aquela que enredava para cheirar aquela casa de fantasmas? Os pés afundavam no areião, lavavam -se os dedos, um lava pés quente e morno, lambendo as asas dos lábios úmidos, limeiras pelos caminhos traziam os revoos dos sabiás, arrulhos de trigais sem corvos, Araruna era apenas uma aldeia perdida num mapa geológico onde os marimbondos faziam suas cachopas nas pálpebras das janelas em qualquer hora do dia. E que importava se o sol escaldante curtia as tuias, os terreiros, e as bateias com aqueles grãos avermelhados, adocicados dos cafezais perdidos das terras roxas do norte do Paraná, Zocha desamarrava o lenço sob o chapéu de palha, caminhavam para ver uma casa alaranjada de janelas vermelhas. Ali poderia acontecer o ninho esperado, fora prometido. No trajeto a zoeira do cheiro dos fantasmas e a casa fantasmagórica caminhante, se deslocava e vinha ao encontro deles, sem pintura, bordada de maracujás assustando com seu cheiro estranho. Como fugir daquela linha magnética? A cidade quebrava-se, esticava-se, Norte e sul se confundiam, a rua larga do hotel do Comércio se estreitava. Ali não havia ninguém, só o zumbido dos marimbondos, das abelhas, e uma melodia estranha que cheirava perfume de flores silvestres e fétido estrume . E as sombras projetavam-se oblíquas e pareciam formatar imagens nunca vistas, rumores nunca ouvidos. O ônibus ladeava em curva a montanha e lá distanciava-se a casa do olhar enviesado, cúpido e míope, afogada no seu próprio delírio...na rodoviária como no café da manhã sempre amanhecia sem nunca amanhecer, saltavam de seus olhos as gabirobas de asas de pássaros da terra, a primavera incendiava as colméias das sementeiras...

domingo, 11 de setembro de 2011

ONDE DORMEM AS SOMBRAS NA PALETA?


estudo/pp4
desenho/Lilianreinhardt

Memoriais de Sofia Zocha




A cada pincelada o golpe e a carícia, quando não é uma é outra, a mancha a desguiar e desvelar os olhos da prancha. Ele dançou freneticamente sobre a prancha e seus fractais rendilharam-lhe de espinhos as rosas dos pés enquanto pintava a vida vazia.
Zocha sentada no vestíbulo da velha casa mirava as linhas perdidas das paredes do casarão, o casarão a olhava. Ela jogava algumas manchas na tela, um vozeiro estranho ecoava. Um remoinho de ventos e ao longe na estrada que levava a alma, de um insólito viajante chegava o eco de um solitário canto. Ele parara na estrada, amarrara o cavalo no vento....Eraperegrino de longa travessia, mas, ciscaca as várzeas da alma até as estrelas. E entre a palha das horas o fogo ao longe retumbava o horizonte aceso. Mas, ele era morador do outro lado da ilha e tinha parreirais e vindimas imperecíveis. Ela estava muito longe dele quando ele passou. Ele apenas ouviu seu canto enquanto o pássaro de fogo continuava dançando sobre a tela, tecendo movimentos e respingos e a nudez das próprias ilusões. Dançava nu sobre a pintura, talvez copulasse com ela e ela lhe sugasse as marcas sudoríficas das camadas geológicas de sua nudez. Numa dança ancestral, abria-os braços...Lá vinha ela como uma montanha galopante e distante do cerúleo horizonte e dissolvia-o quando pintava no escuro de seus pântanos..As solidões não se comunicam, nem as indiferenças que esmerilham crueldades.Ela morde a própria maçã ,procura no mapa onde na cidade dos mortos poderá ser encontrado uma plantação de maçãs, elas lhe figurarão a representação das sombras ocultas onde dormem na paleta, é preciso prestar atenção na natureza, no vitral suas perspectivas defletem sobre o lago assustado...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Que estação era aquela...


imagem/estudo/desenho 7aa
Lilianreinhardt



(Memoriais de Sofia/Zocha)


Na brancura da tela os tons da invisibilidade da anatomia daquele rosto austero a contemplava. Fora da moldura aquela pequena varanda recoberta de cheiros de cio das rosinhas, heras circunavegavam o remoinho da dança das abelhas. A sombra liquefeita de um corpo tremeluzia no poço de boca larga lá na esquina do tempo remoído guardado na gaveta. Varandas e poços, que interstício de simulacros sob o olhar longínquo daquela casa. Ambos então puseram-se a conversar, um diálogo de ritmos que iam e vinham. O vento revoava ....Que estação era aquela? Olhou em derredor e o verde salpicava das árvores desmanchando-se pelas sombras do chão em escrutínios de complementares em múltiplos tons avermelhados, violetados...Como ainda permanecera incólume entre as arquiteturas modernas que se erguiam a seu lado? Ela argüia para si muitas perguntas, sem respostas. Aquela alameda havia se desconfigurado desde o inicio, de antiga viela lentamente as construções cediam aos especuladores e aos empreendimentos imobiliários. Imensos edifícios de concreto emergiam ao espaço, e ela ali permanecera resguardada...
Faria alguns traços em carvão buscando um rápido esboço ...mas, a continua inquietação da tela levitava o esboço. Uma imensa clareira e repentinamente ela não mais se encontrava ali....

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Deslanados e Ovelhados



imagem/estudo/pintura///E
Lilianreinhardt
Memoriais de Sofia/Zocha)


Do seu jardim olores de madressilva tremulavam sob os raios tenros de luz que salpicavam das musgosas heras. Cheiro de café expresso, ela corria o olhar na brancura da geada bordada pelo caminho, enquanto caminhava soltando baforadas de ar quente , era preciso desviar dos reflexos dos olhos brilhantes dele, com aquele ponto magnético de bússola e rosa dos ventos, havia algo de anéis de Saturno em suas asas, múltiplos asteróides em derredor dele, algo acústico no timbre de sua voz rouca, e aquela sombra indo e vindo naquela rua... Ela indo, ele vindo,.. elástico o tempo os colocava frente a frente. Caminhava eufórica, com um laçarote escarlate na blusa púrpura de babados, boné vermelho de caloura e ele tosado, deslanado, apesar do frio, ambos ovelhavam de desejo, um dentro dos olhos do outro, pelo calçadão escorregadio que bordava aquele prédio de pórtico grego, onde habitam os mesmos sonhos...
Mas a cidade se arrastava incendiada de néons,com a enfermaria lotada de cadáveres bêbados. Todos dormiam de olhos abertos.Ela fixou com algumas hachuras de carvão sobre a tela enquanto a bombordo embarcavam as borraduras.Ela pintaria vários esboços daquele motivo, cada um rasgando, os olhos lacrimando, o veneno subindo na garganta.Uma pintura pode não ser uma pintura e palavras não são só palavras. O sineiro sabe das coisas quando puxa as cordas do sino, ele sabe que o povo é quem chama a missa, e o boi não esquece do olho do vaqueiro que o marcou, Íbis morre quando fora do Egito, dizia Kant,enquanto o cuco anunciava a mesma hora do seu passeio, todas as tardes,,,A tela branca e a camisola de núpcias procurada como uma agulha no palheiro para a grande noite boreal podem ser verossímeis. Em ambas ficam coladas as marcas do vitral e suas perspectivas,,,,,

terça-feira, 21 de junho de 2011

Quando a aldeia mudou de lugar


Gravura/Poty Lazzarotto




(Memoriais de Sofia/Zocha)




Quando a aldeia mudou de lugar ela chorou.
Havia deixado lá os rastros e as sementeiras dos pés, havia escrito trovas pelas cercanias dos ventos e levantado voos. Voava com as rochas, voava com os rios, voava companheira das árvores, era um quintal voador e das sementes choviam plátanos e trigais sobre os cabelos da menina Zocha. Mas os olhos da aldeia escureceram, debandearam, os ossos não se fixaram mais nas covas, havia frieza , arrepios e morcegos se passando por andorinhas. A aldeia pegava fogo de repente e os céus escurecidos recobriam-se de fumaça negra do luto. Nos cemitérios brotavam agora pomares com frutos secos , ela havia se despido para ele e colhido rosas de areia, agora os sinais haviam sido trocados, porteiras fechadas, os mata-burros permaneceriam só nas fotografias.A aldeia criança agora menstruava, os seios apontavam como as laranjas-meninas e as flores de pessegueiros cobiçavam o canto dos bem-te-vis. O primeiro olhar ficara depedurado na cerca de ripas, o vento envelhecera, trocara de alforge e saíra a perseguir os caminhantes, desnudando até o velho tocador de pífaro, que vivia encantado com as cartas de seu realejo. Zocha secou os olhos e continuou a ler as lições de Ulpiano no livro de capa dura de direito romano. Era agora uma outra mulher. Os homens faziam leis para cumpri-las, mas, não as obedeciam, e então criavam as penas, os presídios, os exílios para se auto-castigarem. A perda das ilusões também leva a um auto-flagelo que conduzia à prisão da realidade, um exílio atormentado onde as ex-crianças se auto-punem, a consciência chora as fissuras perdidas. Zocha era agora uma flagelada composição matérica fragmentada, os urubus esperavam seus escaninhos, doloroso era ouvir a voz do vento rouca e ofegante a lamber-lhe ainda os ouvidos moucos, na loucura dos sinais das sílabas daquela língua morta...