sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Deslanados e Ovelhados
imagem/estudo/pintura///E
Lilianreinhardt
Memoriais de Sofia/Zocha)
Do seu jardim olores de madressilva tremulavam sob os raios tenros de luz que salpicavam das musgosas heras. Cheiro de café expresso, ela corria o olhar na brancura da geada bordada pelo caminho, enquanto caminhava soltando baforadas de ar quente , era preciso desviar dos reflexos dos olhos brilhantes dele, com aquele ponto magnético de bússola e rosa dos ventos, havia algo de anéis de Saturno em suas asas, múltiplos asteróides em derredor dele, algo acústico no timbre de sua voz rouca, e aquela sombra indo e vindo naquela rua... Ela indo, ele vindo,.. elástico o tempo os colocava frente a frente. Caminhava eufórica, com um laçarote escarlate na blusa púrpura de babados, boné vermelho de caloura e ele tosado, deslanado, apesar do frio, ambos ovelhavam de desejo, um dentro dos olhos do outro, pelo calçadão escorregadio que bordava aquele prédio de pórtico grego, onde habitam os mesmos sonhos...
Mas a cidade se arrastava incendiada de néons,com a enfermaria lotada de cadáveres bêbados. Todos dormiam de olhos abertos.Ela fixou com algumas hachuras de carvão sobre a tela enquanto a bombordo embarcavam as borraduras.Ela pintaria vários esboços daquele motivo, cada um rasgando, os olhos lacrimando, o veneno subindo na garganta.Uma pintura pode não ser uma pintura e palavras não são só palavras. O sineiro sabe das coisas quando puxa as cordas do sino, ele sabe que o povo é quem chama a missa, e o boi não esquece do olho do vaqueiro que o marcou, Íbis morre quando fora do Egito, dizia Kant,enquanto o cuco anunciava a mesma hora do seu passeio, todas as tardes,,,A tela branca e a camisola de núpcias procurada como uma agulha no palheiro para a grande noite boreal podem ser verossímeis. Em ambas ficam coladas as marcas do vitral e suas perspectivas,,,,,
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