domingo, 11 de setembro de 2011

ONDE DORMEM AS SOMBRAS NA PALETA?


estudo/pp4
desenho/Lilianreinhardt

Memoriais de Sofia Zocha




A cada pincelada o golpe e a carícia, quando não é uma é outra, a mancha a desguiar e desvelar os olhos da prancha. Ele dançou freneticamente sobre a prancha e seus fractais rendilharam-lhe de espinhos as rosas dos pés enquanto pintava a vida vazia.
Zocha sentada no vestíbulo da velha casa mirava as linhas perdidas das paredes do casarão, o casarão a olhava. Ela jogava algumas manchas na tela, um vozeiro estranho ecoava. Um remoinho de ventos e ao longe na estrada que levava a alma, de um insólito viajante chegava o eco de um solitário canto. Ele parara na estrada, amarrara o cavalo no vento....Eraperegrino de longa travessia, mas, ciscaca as várzeas da alma até as estrelas. E entre a palha das horas o fogo ao longe retumbava o horizonte aceso. Mas, ele era morador do outro lado da ilha e tinha parreirais e vindimas imperecíveis. Ela estava muito longe dele quando ele passou. Ele apenas ouviu seu canto enquanto o pássaro de fogo continuava dançando sobre a tela, tecendo movimentos e respingos e a nudez das próprias ilusões. Dançava nu sobre a pintura, talvez copulasse com ela e ela lhe sugasse as marcas sudoríficas das camadas geológicas de sua nudez. Numa dança ancestral, abria-os braços...Lá vinha ela como uma montanha galopante e distante do cerúleo horizonte e dissolvia-o quando pintava no escuro de seus pântanos..As solidões não se comunicam, nem as indiferenças que esmerilham crueldades.Ela morde a própria maçã ,procura no mapa onde na cidade dos mortos poderá ser encontrado uma plantação de maçãs, elas lhe figurarão a representação das sombras ocultas onde dormem na paleta, é preciso prestar atenção na natureza, no vitral suas perspectivas defletem sobre o lago assustado...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Que estação era aquela...


imagem/estudo/desenho 7aa
Lilianreinhardt



(Memoriais de Sofia/Zocha)


Na brancura da tela os tons da invisibilidade da anatomia daquele rosto austero a contemplava. Fora da moldura aquela pequena varanda recoberta de cheiros de cio das rosinhas, heras circunavegavam o remoinho da dança das abelhas. A sombra liquefeita de um corpo tremeluzia no poço de boca larga lá na esquina do tempo remoído guardado na gaveta. Varandas e poços, que interstício de simulacros sob o olhar longínquo daquela casa. Ambos então puseram-se a conversar, um diálogo de ritmos que iam e vinham. O vento revoava ....Que estação era aquela? Olhou em derredor e o verde salpicava das árvores desmanchando-se pelas sombras do chão em escrutínios de complementares em múltiplos tons avermelhados, violetados...Como ainda permanecera incólume entre as arquiteturas modernas que se erguiam a seu lado? Ela argüia para si muitas perguntas, sem respostas. Aquela alameda havia se desconfigurado desde o inicio, de antiga viela lentamente as construções cediam aos especuladores e aos empreendimentos imobiliários. Imensos edifícios de concreto emergiam ao espaço, e ela ali permanecera resguardada...
Faria alguns traços em carvão buscando um rápido esboço ...mas, a continua inquietação da tela levitava o esboço. Uma imensa clareira e repentinamente ela não mais se encontrava ali....

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Deslanados e Ovelhados



imagem/estudo/pintura///E
Lilianreinhardt
Memoriais de Sofia/Zocha)


Do seu jardim olores de madressilva tremulavam sob os raios tenros de luz que salpicavam das musgosas heras. Cheiro de café expresso, ela corria o olhar na brancura da geada bordada pelo caminho, enquanto caminhava soltando baforadas de ar quente , era preciso desviar dos reflexos dos olhos brilhantes dele, com aquele ponto magnético de bússola e rosa dos ventos, havia algo de anéis de Saturno em suas asas, múltiplos asteróides em derredor dele, algo acústico no timbre de sua voz rouca, e aquela sombra indo e vindo naquela rua... Ela indo, ele vindo,.. elástico o tempo os colocava frente a frente. Caminhava eufórica, com um laçarote escarlate na blusa púrpura de babados, boné vermelho de caloura e ele tosado, deslanado, apesar do frio, ambos ovelhavam de desejo, um dentro dos olhos do outro, pelo calçadão escorregadio que bordava aquele prédio de pórtico grego, onde habitam os mesmos sonhos...
Mas a cidade se arrastava incendiada de néons,com a enfermaria lotada de cadáveres bêbados. Todos dormiam de olhos abertos.Ela fixou com algumas hachuras de carvão sobre a tela enquanto a bombordo embarcavam as borraduras.Ela pintaria vários esboços daquele motivo, cada um rasgando, os olhos lacrimando, o veneno subindo na garganta.Uma pintura pode não ser uma pintura e palavras não são só palavras. O sineiro sabe das coisas quando puxa as cordas do sino, ele sabe que o povo é quem chama a missa, e o boi não esquece do olho do vaqueiro que o marcou, Íbis morre quando fora do Egito, dizia Kant,enquanto o cuco anunciava a mesma hora do seu passeio, todas as tardes,,,A tela branca e a camisola de núpcias procurada como uma agulha no palheiro para a grande noite boreal podem ser verossímeis. Em ambas ficam coladas as marcas do vitral e suas perspectivas,,,,,