quinta-feira, 29 de julho de 2010

TANTOS ERAM OS PORTÕES


pintura/Jacek Yerka

(Memoriais de Sofia/Zocha)

(Tantos eram os portões de ripas,com suas taramelas por dentro, de folhas sopradas nas casas do tempo...


tantos são os fantasmas noturnos que
esvoaçam entre as frestas daquelas cercas de pinho araucária
e açoitam aqueles portões que seguram os olhos,
que ressurgem, assim, esses esquadros das pulsações da alma, por entre
os morcegos que vagueiam pelos beirais,
e reviram sombras entre os avessos dos chafurdados porões, entre as réstias de alhos!...)



O céu degela , a vida recomeça.
Comadre Emilia não pode mais ultrapassar os portões
de sua casa. Aprisionou-se, tem agora os olhos escavados
nas fundas grutas do rosto, encravaram-se na sepultura do finado filho Paulinho o já
sorriso tímido e os crivos das palavras. Nunca mais pisará
o pé fora de casa, além do portão frágil das cercanias das ripas de pinho em lanças. Ficará como sua casa, encravada, circunscrita



entre os arvoredos, entre os beija flores e os morcegos, entre cravos, flores de cera, begônias e avencas, com a alma dependurada pelos fios das teias de arame que seguram os vasos- latas na pequena varanda,
e só chegará ao portão e contemplará o mundo
conversando por sinais e berrros e sonidos com a polaca Nuska do outro lado da rua e os passantes que a reconhecerem e ela pensar reconhecer...


A filha Odete acabará por ficar noiva de João,
terá quatro filhos , todos sairão à cara arretada do marido, construirá uma casa nos fundos, ficará
porta à porta com a mãe, indefinidamente,
entre elas não haverá mais portões...
viverá numa singela casa mobiliada de móveis
de pinho, paneleiro de alúminio,

jogo de cozinha azul com caixão de lenha... e um dia não muito longe enterrará um dos filhos ainda não nascido...


Os portões parecem alinhavar linhas demarcatórias, bastidores de riscados de indefinidas malhas geográficas, afivelar cercanias do pensamento,
sob a película da concavidade do tempo
e se postam como sentinelas, urdem teias
erguem-se em colunas, molduras de ar, pensam guardar casas, anteceder grunhidos, sons,
uns de olhos de ripas, outros de ferro,
outros e outros de alúminio, com ferrolhos de aço!
Ontem, as últimas chuvas descamaram, descascalharam
a rua Alagoas . Grandes valas se abriram, se descarnaram da terra com perigosas fendas para o
trânsito além dos portões. Odete continuará trabalhando na fábrica da Linhagem, há alguns quilometros de sua casa, indo e vindo com a bicicleta Axel, beirando a linha do trem perto da Usina de óleo comestivel Fanadol e subindo a rampa sulcada , pelo degelo das enxurradas, nas manhãs fechadas da gelada Curitiba. Assim, abrirá e fechará todos os dias a taramela do portão de ripas.Não esquecerá, de levar o cachecol de lã tricotado em ponto meia, enrolado em volta do pescoço e da marmita de alúminio, na sacola de pano, no porta-bagagem!...

terça-feira, 27 de julho de 2010

RECRIAS


foto/Maria de Jesus Riveira



(Carroção do Tempo dos (polacos)/ Os Roserais de Zavadwski

(releitura)

Ele era destempo, destemperado polaco, empunhava a batuta, era
pesado, monódico, monolítico, pisava firme, afundava o chão e parecia um engolidor de almas.
Ele era um destempo impróprio à paradoxos de carnaduras, chegava sempre pelo longo corredor
da caverna do colégio e por aquela goela de turbilhonante ansiedade dizia: - A profanação da própria palavra retempera os desejos, recompõe heresias, é preciso reconfrontar texturas, libertar-se
do caminho original, do caminho de paternalismos, os animais nas passagens quebram as bilhas na busca pela água e comida. Na opressão da caminhada, no pastoreio, rompem volteios, fogem de velhos comboios que encontram ao acaso nas estradas, escapam das similares prosas do mundo. Puxa a corda umbilical do pião - completava, fugaz é o gozo da humana condição. E arrematava a prosa em silêncio, sem leilão: - O homem é um forjador de linguagens e no remoinho da história o lugar é de combates. Avante animais,
para o abate! No fundo, talvez, o verbo esse sôpro de ruídos profanadores seja apenas
um tempo de conjugação de incompletudes, do grunhido das coisas, um tempo de recrias, da palavra
sempre grávida e do animal grávido,por uma alquímica forragem!...


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quarta-feira, 7 de julho de 2010

FLORAÇÃO


pintura/Guilherme Matter



(Carroção do Tempo (dos polacos)))




...ele vem de longe!
De muito longe ele vem ...

Outra floração e a fumaça de Maria cruza o céu a incensar os roseirais. A linha do trem passa no encruzo adiante da estrada da vírgula, onde a sintaxe já reescava mais fundo as metáforas do agora.

Os caixotes de pinho estão guarnecidos de cebolas, abóboras, pepinos, espinhos além do tempo espigados. As espigas selecionadas, as flores dos tomateiros recém-colhidos, dos repolhos...e o carroção abastecido toma o rumo do estrada. A poeira úmida levanta sua cortina no estradão.....as flores do agora esmaecem, é preciso apodrecer, é necessário refundar os próprios ossos...


Tombam as pinhas e esparramam-se pelo chão...são sementes que guardam segredos dos olhos maduros do grão. Zocha abraça a aspereza do tronco dessa araucária altiva, levanta as asas do olhar sob a morada de seu ninho onde se guarda a concavidade das suas mãos...mira a distancia do chão à altura dessa impertinente semente que se ergue do chão, e permanece ereta enquanto os mares singram os céus com suas nuvens e as tempestades esvoaçam e arrebentam os outeiros...
Ei-la incólume, desgalhando-se...e quando o raio a derruba a chuva rega a semente e nela pousa uma ave negra e azul que a esparramará pelos lugares mais inóspitos.

Ao longe um remoinho de poeira em espessa trama de fios rebrilha sob o lusco fusco do tecido do entardecer. Uma dança asterisca sob o olho d’água um chiado, é preciso deitar o ouvido sob o rastro quente do próprio corpo e ouvir junto as coisas existirem.

Ele acabou de passar por aqui. Um pouso sobre a pedra, asas em flancos e a ressonância ganha altitudes.Agora ele é pássaro pousado no horizonte. O zumbido da montanha, a corredeira bebericando o crepúsculo, o fio do horizonte balouçando doirada flama. Na estrada a linha dos rastros serpenteia e quebra as encostas, os flancos dos desvãos, os passos fundos dos roldões escrevem sobre o barro quente das encostas.

Entre curvas serpenteiam os sulcos, pontos que se abrem e se fecham em sístoles e diástoles do prumo que vai se estirando como uma corda a sonorizar-lhe as passadas.

Cada enlace um tom, infinitos acordes, queda a linha sobre o abismo fundo das travessias, ele vem de longe, de muito longe, sob o toldo a colheita e as sementes da ultima safra e desta assim, sucessivamente, carrega as sementes das ancestralidades aconchegadas nos balaios de cebolas, de abóbodas, das naves, aves de espigas, o grão armazenador da energia da criação e ele ao longe ele singra ora célere, ora em passo lento, margeando os córregos. Atravessa o serpenteio do vale da morte, enquanto a sombra escreve seus diagramas, sobe e desce a trilha, entre os flancos ....senta-se à mesa do tempo, come do pão repartido, adormece sob a quentura dos seios, singra o vale com o tambor das medidas cheias, que é milagre se nascer do estrume, acontecer na luz e ajoelhar-se em prece sob a tumba da própria floração...

terça-feira, 6 de julho de 2010

JARDIM SUSPENSO


pintura/Jacek Yerka





(Memoriais de Sofia (Zocha)


Os Jardins suspensos da Babilônia seriam os altares da nossa infância?A infância seria uma pátria perdida, um lago congelado onde adormecidas jazem as ogivas da memória, acústica de fugidias letras em orquestral remanso de escuridão límpida...?
Contra o azul deste céu ergue-se em esplendor ainda,de possante nave, a ogiva metálica da Igreja Ortodoxa bizantina,no alto da colina da Vila Guaíra.Dobram os sinos pelos carreiros daquele bairro pobre pulsando suas vielas...
As valetas enormes ladeiam aquelas ruas sulcadas pelas nossas andanças.Valetas crateras que a lâmina do tempo não cerra os olhos das minhas vaganças.Eu piso ainda dentro delas e afundo meus pés sobre o chão movediço quase engolida pela língua
das correntezas...elas comem pelos beirais as dobras dos barrancos decepando as raízes mal nascidas, levando os seixos perdidos, rolando os mós do tempo!
Dobram os sinos...repicam os sinos da Igreja Ortodoxa ucraína.Maria-Ave olha dos meus olhos, mira os céus do bairro pobre, busca a palavra perdida.
- Oh Céus de Zavadwski!Quo Vadis, minha alma, barro da minha terra, treme o corpo do meu chão!!! Minha aldeia natal de Curitiba, com suas taças ogivas dos florões dessas dantescas araucárias aparando as geadas com suas cúpulas, com os ninhos das mãos a recolher o congelo de orvalho caindo dos céus...Essas polacas cúpulas redomam a agonia dos meus gelados ares!
De repente,no jardim...acocorada entre os canteiros, de cravos, crisântemos, mosquitinhos, dálias, vejo Zocha...simplesmente Sofia, a vizinha em frente à nossa casa, mãe do polaco lambido Leontcho que faz as regas da tardinha enquanto dobram os sinosda igreja ortodoxa com sua cúpula bizantina,chamando os fiéis para a missa da sexta hora.Os santos ainda estão cobertos! Ela Afofa a terra dos canteiros com esterco do galinheiro, como minha mãe,enquanto do outro lado da rua Florami mulher do funcionário do Tribunal ,jaz decaída sobre a cerca do portão de ponteagudas ripas procurando na rua o bosquejo da vida...Seu olhar semi morto desmaia a mesmice
e parece alheio ao brado dos sinos escorrendo pela água do bueiro, pelas valetas desbeiçadas das correntezas de fundo falso...enquanto do jardim suspenso, entoam dálias,os girassóis de Zocha, mirantes sobre o cadafalso!!!


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Lilian Reinhardt

RELICÁRIO


pintura/GUIDO VIARO



(MEMORIAIS DE SOFIA (Zocha)))



Já faz um numero de poentes,de sapatos gastos,que o carroção dos polacos apeava com seus cavalos mansos à porta do bangalô de madeira,de janelas cor de musgo, na Vila Guaíra,com o comércio das porcelanas.Elas,vinham acondicionadas em caixotes com palha de milho e eram trazidas da cidade de Campo Largo.
Aquelas meninas, eu e minhas irmãs, ficavamos dependuradas nos sarrafos da cerca de ripas ponteagudas mastigando a lanha das felpas, como trapezistas ansiadas,com os olhos brilhantes espiando as compras.A polaca de lenço branco até a testa,tinha a pele enferrujada como a minha e minha mãe orgulhosa, ia montando palmo a palmo na cristaleira nova de pinho envernizado,dos móveis da singela sala de jantar a louçaria delicada que comprava, uma a uma à prestação e que vinha como relicário,transportada pelos estradões de pó virgem,por aquele pesado carroção..


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FURTIVA GOTA





(Memoriais de Sofia(Zocha))






Era ainda escuro e aquelas palavras tremeluziam sob o seu olhar, rodopiavam inscritas pelo fogo no círculo do tempo daquele casulo.

Pupila sentada no banco da roda gigante rodava com elas... rodava...rodava, ora as coisas diminuíam,...ora as coisas cresciam...ora ficavam próximas, ora ficavam longínquas, o mundo aumentava, o mundo diminuia....

Mas, daquela roda que girava ela vira sair ´presentes de natais . Aquele galinho de madeira com rodinhas para a irmã menor, o gatinho azul de rodas para a outra irmã, o anel verde de jade, mas sempre o presente maior e mais doloroso era quando a roda afiava a presença de um grande silêncio entre as salas vazias daquele casarão da praça de Araruna...entre as cercas de ripas do bangalô da rua Alagoas, sob as muralhas da Goiás...sob o verso das flores das pereiras que desobedientes cresciam o tempo do azul além dos muros...

Uma presença mortífera plena de imensidão então se espalhava por aquela casa faminta como uma loba no deserto a sentir fome do próprio cheiro e sua mãe chorava.. Mas, ñão esqueça menina que um sonhador habita em todos os lugares diz Bachelard e assim estes a miram ,,, todo cálice é ninho num quintal de araucárias onde caem as grimpas sob o verbo do chão frio...

. Aquele quarto era imenso, a mãe havia mandado retirar as paredes do aposento contíguo e assim o ambiente ficara mais claro e amplo porque as janelas eram pequeninas, as taboas escuras da casa sem pintura, os vidros fosqueados das janelas com venezianas escureciam o seu interior, escondiam suas intimidades, as almas das sombras perambulavam através das paredes e todos sofriam com o movimento insólito das coisas...

Pupila acabara de aprender a ler e agora já poderia saber o que se ocultava naquele manuscrito :- Desenrolou o pergaminho bem devagar... soletrava cada minúscula letra... o nome que constava ali era o de seu pai, ela sorriu... mas, não havia ali o nome de sua mãe...era outro nome que lia e relia, era outro o nome da mulher de seu pai!!!

Um susto abafou os vapores do silêncio, a roda gigante disparou a casa aos seus ouvidos, rodava agora o tempo nu gargalhando, caía o lampião ferido ao chão, incendiava-se aquela cidade do tempo...

Queimava a rua do Novo Hotel, do Hotel do Comércio, do cinema e dos filmes de Amélia, da casa de comércio amarela da esquina, da praça com seu buraco de lixo ao centro, dos cedros encobrindo a igreja católica, da beata Teresa de vestido comprido fazendo xixi agachada no escuro, atrás da Igreja, de Marocas vindo do posto de gasolina, com o saco de latas de óleo para plantar begônias, de Floripa visage caindo no buraco da praça,

... incendiavam-se as grimpas dos versos, a pequena borboleta queimava as asas, gritava a alma transpassada, das cinzas os lúmenes...


Furtiva gota do lago da alma derretia, reluzia!



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segunda-feira, 5 de julho de 2010

PULOVER PÚRPURA


imagem/Carol Cavalaris




Memoriais de Sofia (Zocha)

....na lã da infância/se guarda o eterno!

Entre pacotes de trigo, fubá, açúcar Diana, café Marumbi, latas de azeite Fanadol , Primor, pacotes de gordura vegetal, pedaços de sabão Amazonas, latinha verde de margarina Saúde,com a estampa daquela menina de laçinho, lá estavam aqueles com novelos de lã coloridos embrulhados em papel celofane .Que ansiedade!

Com que expectativa eu vinha pela estrada ajudando a mãe a carregar as sacolas da venda do seu Rufino, só na esperança daqueles novelos. Aprendera a tecer com Maria irmã de Edilia, a manca, dentuça e crente, as irmãs que moravam numa casebre, de chão de barro, na beira da linha do trem , na vila Lindóia e que tinham as panelas de alumínio areadas,mais brilhantes do mundo, dependuradas nas paredes e naquele paneleiro em pé como um torre acesa.

Maria trabalhava longe numa fábrica e tinha uma bicicleta Monark cor bordeaux, com rede de fios coloridos na roda traseira. Como eu ficava deslumbrada com aquela bicicleta... Foi Maria quem me ensinou a trabalhar com as agulhas. Mas, a mãe só comprou a quantidade certa de novelos para os pulovers que eu ia tecer, depois de eu haver tecido o meu primeiro pulover, é claro...

E a artesã ficava feliz com o primeiro emprego de tecelã, já havia treinado muitas mantas, tecido kilometros de tripas em ponto meia que se esticavam que nem elástico e compunham um grande varal que podia agasalhar o bairro da Vila Guairá inteiro.


E foi assim que a mãe confiando no meu tear comprou aqueles novelos de cor púrpura para eu tecer a blusa de Maruska polaca filha da dona Nuska à qual a mãe devia muitas obrigações. Daí é que nasceu o primeiro pulôver.

Eu ia construindo os tijolinhos, entre pontos meias e tricots palmo a palmo e o pulover nasceu. Como era lindo e cheiroso aquele pullover de lã barata, Eu ficava orgulhosa porque havia tecido sozinha aquela peça, quer dizer, orientada por Maria, mas, ele era cheiroso como o pão que a mãe amassava.

Que alegria poder tecer com as próprias mãos, construir com as mãos. E assim ficou de pé o pulôver cor de púrpura e a mãe de agora diante trazia no meio das compras da venda do Rufino as lãs baratas para eu tecer os pulovers para os irmãos. Jorginho de franjinha Curumim ganharia um azul claro, , cor de girasol para a irmã Malu, branquinho para Luisa, há esse da Luisa um dia eu errei e fiz uma manga com tripa comprida e tive que desmanchar tudo...


Que contentura habitava o coração daquela menina.. Um cheiro inesquecível de lã cai dos olhos desse sal do agora, mas as agulhas moendavam e o fio serpenteava, saía da linha que se abria desde a roca do porão daquele bangalô da rua Alagoas, a gente esticava e ele subia depois pelas pipas, pulava a janela do meu quarto que dava para a rua principal do bairro e enlaçava os pontos de tudo que acontecia por ali.

A dona Lair mãe da Soninha de cabelo vermelho, menina mimada, filha única, sardenta igual eu, era muito dengosa, a mãe fazia-lhe todos os mimos e eu só apanhava. Nossa!!como ela era bonita!

E eu gorducha com aqueles cabelos compridos demais que a mãe penteava todos os dias e fazia uma trançona com fita dependurada e mandava ir no armazém da polaca Vanda sem olhar para os lados.- Vai buscar um pacote de banha! dizia franzindo o senho sempre de vaca brava.

Mas, qual, no caminho encontro Arlete Kikotte Irentcha gigante, uma polaca tipo garça....querem dar uma surra na trampa da Mafalda...

Deus, eu não posso olhar para os lados...nem quando o polaco Dirceu esticou os olhos para mim nos meus quinze anos, lá na casa da rua Goiás e falou dependurado pelo do lado de fora da cerca de ripas:- Se um dia voce não for minha, não será de mais ninguém! – Cruzes...que presente!!!Nunca fui dele, e afinal fui de quem? Sou de quem?

Sou é dessa terra estranha que me tece, das agulhas que me suturam e me nascem, sou dos espinhos que me brotam, sou desse pó grávido do meu chão.
Um dia aconteceu eu sangrar a alma com os fios da ilusão que tecia e não sabia que os novelos desse sangramento jamais estancariam....

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REVERBERAS





Carroção do Tempo (dos polacos)


Quando a tarde cai e as cortinas decem,
pelos deuses, ainda ouço a voz nostálgica
daquele auto falante sonolento,
da sociedade Guaíra anunciando
a chegada e o começo do fim do mundo,
a festa de domingo, a geada de segunda,
a missa bizantina!
A rua Alagoas levanta a poeira cascalhada,
dona Emilia acaba de batizar o recem-nascido,
e agora está comadre de minha mãe,
mas, quando cai a tarde também cai a vida,
e Odete sua filha moça,
de pernas branquelas e grossas,
com sua bicicleta azul chegará
da fábrica da linhagem,
onde é operária.
Todos os dias leva marmita
no bagageiro da bicicleta
e à noite já pode experimentar
os mistérios do amor...
Paulinho, seu irmão,
espreita-me quando passo,
finjo que não o vejo, não quero saber dele,
oculta-se sempre sob a pérgula de heras e musgos
daquele macabro portão de madeira,
parece uma estátua mórbida
numa cripta medieval,
com suas imensas orelhas de abano,
ouvindo a acústica do mundo!
Não entenderei nunca o destino de Odete,
não entenderei nunca o destino de Paulinho.
Odete se casará de véu e grinalda,
Paulinho será ceifado aos vinte um anos...
sua mãe se guardará na loucura,
continuará morando no mesmo lugar,
e eu mudarei de endereço para pegar o ônibus
e ir ao colégio das freiras...
O muro de Berlim continuará erguido,
e mesmo depois de caído ainda assim
não entenderei o destino...
e na Faculdade de Direito,
voce me beijará com seu sorriso
nas escadarias, na praça Santos Andrade,
enquanto o morno sol de inverno
derreterá a geada,
por entre as araucárias...

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Lilian Reinhardt

O GUARDA COMIDA


pintura/Jacek Yerka



Memoriais de Sofia (Zocha)))



É isso mesmo. Ele era apenas um guarda comida que foi encomendado pela mãe para seu Manézinho carpinteiro e de repente ele chegou nos mirando, levantando nos braços aquela soturna casa da praça de Araruna.
A cozinha escura, sem pintura, a casa inteira de madeira era sem pintura, meu Deus como era escura e vazia aquela casa, precisava urgente de um guarda comida, porque lá havia muitas baratas e as lagartixas xispavam pelas paredes e a mãe só tinha prateleiras abertas para guardar as louças e as coisas.
Como ele era grande...imenso...se fosse medido...era do tamanho do mundo. E o mundo afinal, que tamanho tem mesmo? A mãe sabia da medida do mundo, tinha sempre uma fita métrica na sua máquina de costura Usquarna, mas, não andava com a fita no pescoço igual o polaco alfaiate Retka, pai de Irentcha. A mãe media tudo com aquela fita métrica e costurava as nossas roupas e fazia os lençóis das nossas camas de algodão e cretone que comprava

e comprava fitas para amarrar meus cabelos na casa de comércio do seu Antonio da esquina da praça onde até comprou até meus sapatos brancos, para o desfile do grupo escolar.Aquela era também uma imensa casa de comércio, me lembro muito das botinas, dos chapéus...do cheiro daquela casa de comércio. Tinha um cheiro perfumado, um cheiro que nunca vi em frasco de perfume algum. Onde será que se acha daquele cheiro? Será que existe ainda daquele perfume?

Mas, finalmente o armário encomendado chegara e estranhamente ocupava todos os espaços não só da cozinha mas de toda aquela nossa casa imensa e vazia. Era imenso como um trambolhão, emendava com o azul do céu, porque era pintado de azul também, um armário gigante, seu manezinho carpinteiro trouxe ele bruto daquele jeito. Não sei até hoje por que não cepilhou a madeira e ele veio com as felpas e tudo, mas, era diferente, ele era pintado de azul claro, e iluminava aquela cozinha escura. Tinha ganchos pra dependurar as xícaras, as canecas de alumínio e esmaltadas, a chaleirinha esmaltada de chimarão do pai sempre ausente, e pequena tramelas seguravam as portas....ele guardava tudo...tudo...xícaras, panelas de ferro, espumadeiras, a máquina de moer café, aqueles pacotes de trigo, guardava a casa inteira até quando despensa ficava vazia, mas, lá tinha uma máquina de torrar café com aquela bola perigosa que girava o mundo e era o lugar onde ficava a irmã menor sentada sobre um cacho de bananas, colhido do quintal comendo.Como era belo aquele guarda comida azul feito a machado,... pesado, monolítico, guardador dos pratos, das panelas... Estranho, de repente ele levantava a nossa casa com seu vazio nos braços. Aquelas portas pesadas, rústicas nos guardavam. A nossa casa era muito insegura com aquelas venezianas escuras, aqueles vidros embaçados, aquela sala imensa que a mãe mandara abrir a parede para clarear porque as janelas eram muito pequenas. Mas aquele armário forte, com suas portas davam para um estranho lugar...e a noite ele as abria e com a mãe nós saíamos pelos cafezais de Araruna, onde a lua seria guia durante uma viagem de fuga que o destino marcaria e não tardaria por nos esperar...



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A VENDA DO RUFINO



pintura/Bruno Di Maio




(MEMORIAIS DE SOFIA(Zocha)



Ah, como esquecer o armazém de secos e molhados daquele português na Vila Lindóia depois de lá, do trilho do trem...Abençoado homem que vendia fiado e confiava nas tranças de minha mãe!

Parece que ainda lembro da misturança de cheiros daquela venda entupida de coisas.Como esquecer aquela misturança de tantas coisas apetitosas que faziam meus olhos esbugalhar se até hoje tenho vontade de comer aquelas balas de gomas, aqueles queijos, aquelas lingüiças, tomar daquele capilé...

Ah, como tinha queijos,havia muitos queijos espalhados pelo balcão,fatiados, dependurados, amarrados,sardelas nas latonas salgadas, pipocas baratas, grandes queijos lunares, solares, redondos,apetitosos, amarelados, curtidos,langorosos, amarrados...tinha salsichões baratos dependurados, também,pertinho dos salames cheirosos,ajeitados às pesadas mantas de toucinhos defumadas...muito cheiro misturado de comida e armarinhos,pinduricalhos, copos que se fechavam e se abriam,aquele balcão era tão alto....mas eu esticava os pés e via!


-Balas de goma, rolos de fumo, venenos de ratos,venenos contra baratas, chicletes de bola, bolinhas de búrico, gasosa de framboesa Cini, de limão, de abacaxi, gengibirra, chicletes adams de caixinha...chapéus, de palha, de feltro, parecidos com os do meu pai, ervas de chimarrão ...cuias, bombas iguais as dele...tantos caixotes de lavraturas dessas folhas de partilha, com quem?


Ora,caixas e caixas de sabão amazonas, banha de porco e gorducha vegetal, que a gente passava no pão com açúcar ou com sal...Ah sim, haviam muitas latas de banha
e cera canário... sapoléo radium e soda,também aqueles vidros deitados,gorduchos, atarracados,com
a boca sempre virada pra dentro do balcão,recheados de doces de "nariz sujo",aquele enrolado de creme amarelo e as queijadinhas...

E, aquelas balas de ovos, amarelinhas,incríveis balas de misturas com côco que a gente esquecia sempre e chupava nos lugares mais loucos!.Pirulitos então? Melecados e a granel,chupetas,com gosto de melado,
ficavam perto das geadas e das nuvens dos algodões doces dos infernos e do céus e das marias-moles envoltas em côco queimado, aos montões nos vidros bem guardados próximos das paçoquinhas de amedoim torrado.

Mas o que eu gostava mesmo da venda de seu Ruffino eram aqueles novelos de lã baratos,de todas as cores, que a mãe comprava na conta e eu fazia os pullovers dos irmãos que Maria, irmã de dona Edília e que morava numa casinha cheirosa na beira da linha do trem me ensinava.

- Ah mãe corajosa!...que quando as panelas ficavam vazias lá ia ela na venda do Ruffino
e mesmo não sabendo assinar direito o nome,ele a comida fiada a conta lhe fiava o preito.

E depois sempre silenciosa com sua matemática de cabeça,eis que não sabia ler nem escrever ,ela preparava um talharim bem regado ao molho de tomates,com maionese de ovos de galinha vermelha e batatas e frango refogado com cheiro verde manjerona e levava o prato bem embrulhado, quentinho,em cheirosos panos de algodão alvejado,pra velha dona Conceição ,encravada no leito, no fundo
de um quarto fétido que morava lá nas mesmas bandas da Vila Lindóia e que ela ajudava!

-Psiuu! quieta menina!Segura direito essa sacola!!! Me varava firme nos olhos!...








Lilian Reinhardt

JARDIM DE DENTRO






(Memoriais de Sofia/(Zocha)))





Zocha à mesa corta a broa de trigo e gema, a caneca de café de porcelana simples comprada no armazém do Zé da Vanda, polaca fumega com sua asa quebrada sobre a toalha bordada de ponto cruz; um singelo maço de dálias sobre o guarda comida povoa os olhos; a blusa branca de crivos secando no varal para a missa de domingo voeja...

No terreiro o carroção cansado guarda silêncios e nos roldões dos pés as notações da pauta da caminhada longa na estrada .Ele viajou a noite inteira com Zocha e Brontcha carregado de hortaliças e agora descansa silencioso no terreiro, próximo a tulha que guarda a ceifa da ultima colheita, as ferramentas ainda exaustas, velado pelos espigais verdejantes da cortina do milharal a abraçar-lhe as vistas.

Na bolsa de pano que Brontcha sua irmã lhe fez com beiradas de crochê Zocha sempre leva consigo algumas palavras/ sementes colhidas dos canteiros do próprio jardim, como contas de um terço para oferecer à Virgem de Chestokova, pois as viagens provocam sempre ventos, perdas e são perigosas, a prudência guarda óleo na lamparina, assim, ela leva, também, num alvejado pano de algodão branco, uma broa de milho e gemas e uma caneca esmaltada.

Ele sempre tem muita fome e sede , se o senhor não me entendeu ouve ......ouve... ouve comigo... os sons da existência das coisas!..."


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NAQUELA CASA DO TEMPO


pintura/GUIDO VIARO
(A Polaca)



MEMORIAIS DE SOFIA (ZOCHA)


O pequeno jardim de ripas lancetadas era amordaçado sempre por uma fechadura enferrujada no portão. Sob o céu desnudo, os olhos vesgos do buraco da fechadura pareciam ter pouca importância naquelas
cercanias que guardavam aquela casa entre os árvoredos da rua Goiás. A calçada de cimento descascado levava até a varanda de tijolos, no umbral das horas...

Ouço o cheiro do bolo recheado de creme de abacaxi revestido de cobertura de clara de neve
sobre a singela mesa de fórmica vermelha com bolinhas douradas, piso correndo entre as pétalas vermelhas caídas ao chão, o chão tem o ventre quente, a pereira tá carregada de flores embora das roseiras pendam as dores,
os cravos cozinham rápido na panela de pressão,a missa bizantina toca o sino na matriz de dourada cúpula, Leontcho me olha de sua casa do outro lado da rua,os padres na Igreja Católica tomam seu café
gordo na cozinha da casa paroquial em frente à Igreja.

Eles sempre nos davam santinhos e quantas vezes nós famintos - não tínhamos em casa o que comer- somos filhos bastardos, uma família proibida perante a lei, sempre escondida do mundo, frestavamos à porta deles e levavamos aquele corridão da velha beata dona Júlia, governanta da casa paroquial, mas, mesmo assim víamos aqueles queijos redondos sobre a mesa que pareciam grandes óstias...

Enquanto isso, do outro lado do tempo no bangalô de madeira, quem nos espreitava eram os olhos verdes da menina Soniasz,sempre pronta a nos lancetar contra
as filhas do seu Emídio, o crente em constante vigília...e cascalhar a rua Goiás de cacos de vidros, cuidando sempre das atenções de Tchenko para si.

Sob as cercas de ripas, Florami, sua mãe,faz a peregrinação diária no jardim de cravos, solitária, acariciando com as mãos esquálidas os olhos fundos nas covas de seu rosto de cera , parece afundada no molde de sua argila, não consegue compreender como as abelhas modelam com o corpo a própria casa.A sogra de buço crescido carrega os arreios daquele mundo...

Mas, do lado de cá da fronteira, sobre o sofá novo da salinha desnuda, que como um santuário apenas guarda a televisão nova Empire com pés ponteagudos, pode estar o chapéu de feltro cheiroso de meu pai...

Quem sabe terá chegado à noite, com sua maleta de viagem e seus pullovers de tricot com olor tão estrangeiro para mim...No guarda roupa de pinho envernizado, não há roupas suas... mas, meus olhos bastardos estão a sentir-lhe o cheiro ...

Sobre a mesa do tempo um copo d'água hoje dobrável...alguns códigos escrevem agora esses poemas descartáveis...Meus olhos parecem descartáveis, também ,e engolfam , passantes, o avesso do outro lado da rua do agora, pingam os poemas, a gota contorcida, que sobre o branco papel infringe e comete reincidencias ...




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Lilian Reinhardt

OS ROSEIRAIS DE ZAVADWSKI


imagem/Poty Lazzarotto
(xilogravura)






CARROÇÃO DO TEMPO (DOS POLACOS)

Ao longe, do espigão da curva da poeirenta estrada onde os olhos pasmam os gemidos do tempo ouvem-se ainda, os chiados do pesado concerto do carroção que acaba de chegar da cidade,onde foi levar a ultima colheita de abóboras, repolhos, batatas, milho,feijão...
No varejo do tempo fez a entrega da produção da ceifa.

Zavadski na sítio em Araucária,entre os roseirais, acompanha os gemidos daqueles roldões... por momento,lembram-lhe as sirenes dos campos de refugiados... lembram-lhe os girassóis humanos amontoados nos comboios... lembram-lhe....lembram-lhe...

O acorde silencioso daqueles gemidos dobram,cortam o silêncio dos roseirais sob o concerto da manhã passarada.A manhã orvalhada lhe acaricia a concha dos olhos.Noite e dia os roseirais de Zavadwski lhe comem as carnes.

Desde que chegou às terras geladas do Paraná,sentiu o aconchego polaco de sua Polska distante,desde que acordou num tempo vazio, compreendeu como Napoleão,que a geografia tem muito
a ver com o destino do homem, assim o cumpria, desde que havia percebido que sua alma carregava a pátria também nas memórias do corpo e que sobre sua pele os espinhos dos roseirais haviam escolhido o seu duro granito para espigarem.

E nesta forja incandescente as lágrimas brotavam-lhe quentes entre os desvãos,quando do suplício das brotações...Agora era possível entende-lo com as Catilinárias de Cícero, os dativos e genitivos , os vocativos, os nominativos das declinações, ouvindo-o ao toque da batuta daquele giz sob o halo da lousa fria e compreende-lo, além dos sentidos,porquê lecionava aulas de latim,no Colégio Estadual do Paraná, com as unhas sujas de terra!...




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PETRUCHO



MEMORIAIS DE SOFIA (Zocha)




( Petrucho tem três aninhos e pensa que já é gente grande “petrucho é cranton"... dizia sob a safira do céu de seus olhinhos!)

Zocha mira seu rostinho de anjo rosado com cara suja, vestido de calcinha meio pau,(calça curta), com suspensório sempre caindo, quase derrubando-lhe as calças, narizinho sempre ranhento e a saudade repica sob a lona do Carroção:


- Petrucho seria um anjo da Senhora de Chestokova? Enquanto isso na cozinha, Irentcha sua irmã esfrega e esfrega com sabão de soda e pedra a tábua da mesa.

Será que foi nessa mesa que São Lucas pintou um dia o retrato da Virgem lá em Chestokova? O anjo Petrucho cresceu, quantos anos luz terá hoje? E sua irmã Irentcha aquela polaca magrela
que tinha as mãos branquelas, sempre vermelhas de lavar louças, roia as unhas e também fazia o terço da capelinha de Chestokova.


Acho que é de tanto ver Irentcha lavar pilhas de louças que aprendi a ter cuidado com as louças... e mesmo assim quebro pratos!

A polaca Helena e Yujo Alfaiate são rigorosos na educação dos filhos, é preciso aprender a respeitar e lavar bem as louças próprias, dizem, para saber respeitar a dos outros...porque as louças são frágeis como a vida!


O jardim de Irentcha era cheio de dálias e cravos...nele cabia a cidade inteira, a única praça, as ruas desertas, nele as flores existiam e respiravam...

Lembro quando, Jagunço, o cachorro caiu no poço, Irentcha magrela e o outro irmão, o Chico polaco, tiveram que se desdobrar e buscar água lá de casa em poço mais fundo para lavar as louças.

Ela chegava da escola com seu guarda pó branco, pernas finas, era alta e já trocava de avental para lavar as louças do almoço. O pai, um polaco de cabelos lisos e bigodes era alfaiate e tinha atelier na parte da frente da casa.


Ele vivia com uma fita métrica ao pescoço, seu balcão era impecável e sempre concentrado na grande máquina de costura de ferro preto. Mas, eu levava cada susto com aquele manequim vestido com os ternos de casemira prontos no beiral da porta de entrada da alfaitaria...


Assim, a cozinha da casa do alfaiate sempre tinha que estar com o fogão aceso para abastecer com brasas o ferro de passar roupas para seu atelier que à época,ainda na sua casa não tinha energia, esta passava longe na cidade de Araruna, por isso isso a chaminé da casa de Irentcha sempre fumegava pelos céus...todo o mundo sabia que o Polaco estava trabalhando! Eu ficava olhando...parecia um incensário ardendo...


A casa dela não era coberta de telhado de "talbinhas", como tantas outras naquela cidade e também não tinha parapeito com gamela fora da janela para Irentcha lavar as louças. Era na pia da cozinha, sob a fria pedra, que o pão de milho e centeio era amassado e que suas mãos branquelas lavavam as louças da família, por isso suas mãos eram judiadas,ásperas, sem esmalte nas unhas, mas como as bochechas de Petrucho eram rosadas e a cozinha sempre asseada.

Mas, quando Petrucho gritava com fome, balançava com suas asas a casa inteira do polaco Yujo alfaite!



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Lilian Reinhardt