domingo, 28 de novembro de 2010

Enquanto as rosas cresciam (1)







(Os Roseirais de Zavadwski/Carroção do Tempo dos Polacos)



Ela sentou-se à beira da cama. Da outra cama do outro lado do tempo ele a acompanhava com o olhar. Puxou o lençol e o cobertor até o nariz e só os olhos serpenteavam a figura delicada dela.Aquele era o quarto de um sanatório e o olhar dele afundava cada vez mais. A moçoila cheia de vida rescendia perfume e tinha as bochechas rosadas, não sabia ainda que os sonhos adoeciam e também caminhavam para o crepúsculo. Aqueles corredores imensos do pé direito alto, as freiras de branco confundiam-se com as estatuas que emergiam pelos angulos fechados dos cantos e os ecos das vozes impregnavam os ouvidos como os sons da acústica da nave de uma catedral.
O jardim entrava pela janela. Há alguns dias ele havia sentado com elas naquele jardim de roseiras e abençoado as suas crianças agora já adultas. O quanto era difícil ali permanecer, agora só conversando consigo mesmo, mas, havia já se convertido do aparente ateísmo e se tornara amigo do padre e até comungara. As pombas rorejavam sobre os telhados e as borboletas bruxuleavam as conversas. O céu manchado de azul anotava a cena. Enquanto as rosas cresciam silenciosas ele definhava a cada dia . Uma freira de hábito claro varria as folhas da calçada sob os beirais e uma cálida brisa ainda acendia os seus olhos ....

Um comentário:

Madalena Barranco disse...

Lilian, querida, você me fez ver flores nos olhos, de alguém hospitalizado, mas forte o suficiente para manter-se na beleza da própria alma... Lindo!
Beijos.