sábado, 26 de fevereiro de 2011

DOS MEUS OSSOS




(Memoriais de Sofia/Zocha)

Hoje lembrei da venda do Rufino
dos queijos dependurados
dos salames enrolados
do cheiro de fumo e toicinho
das latas de banha e da gordura vegetal
Lembrei daquela mãe estrela guia
que irrompendo sobre as ventanias
fazia o próprio sabão
fazia e confeitava os bolos com as gemas
da verdade
não batia com ovos de traição
Lembrei da vara de pessegueiro
das floradas das pereiras da casa da rua Goiás
da áspide Soniazs com seus olhos doentes de paixão por inveja na rua barrenta pelo mesmo polaco
lembrei-me do jogo oculto do polaco traiçoeiro
Lembrei-me das tranças sem faianças
Mas havia uma cristaleira com compotas na sala humilde
guarnecida de móveis de pinho
lembrei-me dessas letras sem canção
lembrei-me dos meus ossos com certeza...